A Prefeitura de São Paulo lançou edital que prevê gastos de R$ 10 milhões para realizar parte das atividades da Virada Cultural —as que supostamente vão acontecer no metaverso, realidade virtual em que o público pode interagir por meio de avatares.

Para muitos isso poderia identificar o quanto a gestão pública está antenada com os novos tempos e busca inserir as novidades nos contextos de seu trabalho.

Porém, a ideia se craquela quando indagada por um grande veículo de comunicação, como serão as atividades nesse universo e a prefeitura responde que não sabe, que irá ver depois com a empresa que ganhar a licitação?

Oi? Não é possível!!!

A administração não explicou, por exemplo, como as pessoas vão acessar o evento na realidade virtual nem se os shows serão transmitidos no  metaverso. É notório que algumas plataformas exigem o uso de aparelhos específicos para isso. Em nota, a Prefeitura afirmou que as parametrizações e diretrizes do evento dependerão da empresa contratada por meio do edital, e não da administração municipal.

Ou seja irá fazer algo sem se quer identificar seus objetivos e metas… no melhor estilo, temos o dinheiro vamos investir e ver o que dará!!!

Isso não é agir conforme as prerrogativas de transparência com o dinheiro público. É muita irresponsabilidade surfar na onda do momento, sem saber exatamente o que se pretende.

Para isso ante de abrir uma concorrência, uma comissão técnica já deveria ter estudo o assunto, analisado as possibilidades, os recursos, os diferenciais… mas não… assim qualquer coisa estará bom!!

Vale a pena lembrar que a Virada Cultural surge em novembro de 2005 com o objetivo de democratizar o acesso à cultura e de ocupar a cidade, atraindo as pessoas para fora de suas residências, oferecendo atrações gratuitas ou a preços populares e dessa forma gerar o pleno pertencimento ao espaço territorial público. Será que essa tônica do Metaverso está alinhada com as diretrizes estratégicas do evento?

Outro dado comprometedor desse edital é a data de apresentações das propostas, com um mês somente de antecedência para a sua execução. Um projeto desse há muito já deveria estar no radar e com maior prazo ter sido divulgado para as empresas interessadas.

É um sinal que a prefeitura deve urgentemente realizar concurso público para profissionais de eventos, pois pelo jeito, esse perfil está em falta por lá!

Parece, também, que a prefeitura de São Paulo, em sua esfera cultural, não leu a atemporal obra do romancista, poeta e matemático britânico Charles Lutwidge Dodgson, intitulada Alice no País das Maravilhas.

Há um trecho na obra onde a protagonista, Alice está perdida e encontra o personagem, Gato em cima de uma árvore. Ao vê-lo, surge o seguinte diálogo:

– O senhor pode me ajudar? Diz Alice.

– Claro. Responde o Gato.

– Para onde vai essa estrada?

– Para aonde você quer ir?

– Eu não sei. Estou perdida.

– Para quem não sabe para aonde vai, qualquer caminho serve.

Retrato fiel desse episódio que estamos vivendo, não?

Mas, o pior é que com a ausência de planejamento, o rumo para sucesso da Virada Cultural de 2023 é bem mais diminuto e quem estará no epicentro de toda essa loucura, mais uma vez, seremos nós, a população.

Que encontremos um Chapeleiro Louco no meio do caminho e possamos ser resgatados pois do jeito que está a prefeitura está muito mais para a Rainha de Copas, com seu comportamento intransigente, incoerente e até em alguns casos, autoritário… e para a estória que encanta gerações, o papel dela é fundamental. Mas em nosso cotidiano esse tipo de personagem não tem mais espaço… nem na vida real e muito menos no Metaverso.