Alguns até dizem que a cerimônia está ultrapassada, que não tem mais a relevância de outrora, porém o evento continua chamando a atenção global e sendo um dos mais longevos na história das premiações.

Sim, estamos falando da entrega das estatuetas, dos Oscars, aos que mais se destacam na indústria cinematográfica mundial.

Em sua 95ºedição, pudemos perceber os esforços magnânimos em manter-se alinhado com as discussões e tendências contemporâneas, sem perder sua tradição conquistada com o acumular dos anos.

O surgimento do Oscar teve vínculo com o processo de expansão que o cinema americano passou no século XX, sobretudo na década de 1920. Naquele momento, grandes nomes do ramo resolveram unir-se para criar uma organização que fosse responsável pela imagem de Hollywood, onde os filmes eram produzidos.

Nas últimas edições, gafes e polêmicas acabaram por si só chamando mais atenção que os próprios premiados. Em tática para 2023, sobretudo após a premiação polêmica de 2022, que teve o ator Will Smith dando um tapa na cara do comediante Chris Rock, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas providenciou uma equipe de crise de prontidão. Porém, deixa transparecer que gosta de arriscar-se com indelicadezas proferidas e negociadas internamente.

O apresentador e comediante Jimmy Kemmel, foi o MC, sem gerar nenhuma novidade, já que o mesmo assumiu essa função três vezes – ele comandou a premiação em 2017 e 2018. Porém, em seu script ele abordou a situação do ano passado, quando Will Smith deu um tapa em Chris Rock no palco do evento, em função do mesmo ter sido deselegante e rude com a aparência da sua esposa, a também atriz, Jada Pinkett Smith. A observação grosseira não foi bem recebida porque Jada sofre de alopecia, uma condição que leva à queda severa dos cabelos.

Ora, se queremos que algo seja minimizado, nos parece ilógico, resgatar tais lembranças… totalmente desnecessário e pouco sagaz.

Em outro momento, Jimmy Kemmel interagiu com os convidados ilustres e em uma dessas intervenções a conexão foi Malala Yousafzai, que tem seu trabalho reconhecido nos direitos humanos e educação para mulheres e crianças, sendo inclusive detentora de um Prêmio Nobel e estava presente na cerimônia como a produtora-executiva do curta-metragem “Stranger at the Gate”. A interação gerou desconforto e exigiu resposta breve e pragmática da jovem ativista. Confira o relato:

“Seu trabalho nos direitos humanos e educação para mulheres e crianças é uma inspiração. Como a mais jovem vencedora de um Prêmio Nobel da história, eu gostaria de saber…”. Logo depois, ele perguntou: “você acha que Harry Styles cuspiu em Chris Pine?”.

Foi então que Malala respondeu de forma até áspera: “Eu só falo sobre a paz!”

Não era necessário, mais uma vez esse clima, que ganha repercussão midiática imediata e mais uma vez tira o foco do que deveria ser o principal.

Quem escreve roteiros de cerimônias, solenidades, premiações, eventos, precisa não só ter uma narrativa sedutora, bonita, mas tem estar totalmente antenado com os propósitos e objetivos do que ali estará sendo desenvolvido.

Ganhar propagação por algo não bacana, que nada acrescenta, pelo contrário, só faz com que a imagem do evento fique vulnerável.

A época do fale mau, mas falem de mim já passou… não tem mais aderência no momento. Até porque sem o controle de tal dosagem, o risco de destruir uma reputação é imenso.

O gerenciamento de uma crise deve ter bases na prevenção e não somente na reação. E os eventos precisam urgentemente incluir essas táticas em seus desenvolvimentos.

Por mais que demonstre correr atrás para acompanhar os novos tempos, a solenidade de entrega do OSCAR, ainda tem ranços e pilares conservadores, que muitas vezes nos remetem a não identificar que seu discurso está em sintonia com sua prática.

Isso não é algo intransponível, é algo que estrategicamente pode ser solucionado, basta querer e acima de tudo praticar de forma plena.

Redatores e profissionais na arte de encantar não faltam a Academia, que é constituída por uma célebre nata que entende muito de emoção, de seres humanos… e que em diversos momentos parece que não está sendo aproveitada em seu melhor papel.

Em época de CHAT GPT, é muito arriscado deixar o desenvolvimento de um roteiro sob a responsabilidade de programações robóticas, que até orientam-se por marcos anteriores, mas que não possuem a vivacidade e tônica dos sentidos humanos. Ou pior, deixar nas mãos e mentes que retrogradamente estão bem atrás do seu tempo.

Ah… e particularmente não curti a troca do tapete vermelho, pela cor champanhe… Gosto das tradições, sobretudo quando as mesmas ainda tem vigor e fundamentação para seus usos.