Lima, capital do Peru, durante as próximas duas semanas, será a meca dos esportes nas Américas, pois está sediando a XVIII edição dos Jogos Pan Americanos, reunindo 41 países participantes.

A abertura dos jogos, intitulada Alucina Peru, ocorreu no Estádio Nacional de Lima, com a força de trabalho de 15.000 voluntários que ajudaram a desenvolver uma performance, que mesmo sendo simbólica e protocolar, vem se tornando uma vitrine promocional do país.

E a nação fez bonito, trabalhando com ícones da sua rica cultura, valorizando suas crenças, explorando sua musicalidade, instrumentos singulares, cores vibrantes e diversidade rituais indígenas. A nação sabe que está na moda no imaginário mundial e explorou sua representatividade milenar, sua gastronomia premiada, suas paisagens de tirar o fôlego, literalmente até pela sua altitude e seu artesanato esplendoroso.

A própria homenagem realizada aos países que integram essa edição foi feita por meio da transfiguração das bandeiras nacionais dos mesmos em ponchos estilizados. Um deslumbre só! Fiquei de olho no poncho brasileiro… confesso!

Todo o roteiro da cerimônia foi centralizado na figura de uma montanha onipresente que foi alicerce para uma viagem atemporal de histórias, contos e tradições do Peru, quase sempre associadas aos esportes e transmitindo a convicção que sem passado, o futuro simplesmente não existiria, sendo por isso, importante saudar e respeitar toda a cronologia dos nossos antecedentes. O fundo da mesma foi base de projeção mapeada em diversos momentos integrando-se de forma perfeita as etapas apresentadas, utilizando de forma exemplar a pujança tecnológica da atualidade.

Não existiu luxo, a simplicidade foi a tônica no figurino, nos adereços e adornos cenográficos, já que bem sabemos o quanto é custoso todo esse processo de sediar um megaevento ( para essa edição o valor divulgado para todo o projeto ficou em US$ 1 bilhão e 200 mil). É notório que muitas vezes o orçamento que acaba sendo dirigido a essa etapa das cerimônias de abertura e encerramento é bem restritivo, mas Lima demonstrou – inicialmente – que com criatividade e foco é possível entregar uma experiência memorável, com muito orgulho e alegria.

Um dos momentos mais marcantes foi justamente a execução do hino nacional do Peru, que contou com a interpretação de 49 bailarinos. Assim como a entrada de cavaleiros e seus animais em uma execução coreográfica belíssima. Não gosto do uso de animais em espetáculos, sou mais hodierna e cautelosa com o bem estar dos bichinhos, mas o efeito foi surpreendente e a sensação foi que até os cavalos da raça Paso estavam orgulhosos dessa participação. Aliás essa sensação também era visível em todos os semblantes dos voluntários e nativos presentes na cerimônia, é a o high touch que faz toda a diferença nos eventos.

Na entrada das delegações, vale comentar a inovação brasileira: como porta bandeira, a dupla de velejadoras, Martine Grael e Kahena Kunze, medalhistas olímpicas de ouro, teve a honra de assumir essa missão e ao entrar já foram disruptivas, já que Kahena carregou a colega nos ombros por alguns metros. No meio de seu avanço no percurso, a delegação ainda ensaiou uma coreografia com todos os seus membros ressaltando a alegria e entusiasmo do povo brasileiro.

Na tribuna de honra do local, os políticos e autoridades desportivas estiveram presentes, assim como as vaias, que já se tornaram participantes ativas dos grandes eventos, já que acabam possibilitando em tempo real a demonstração de insatisfações e contrariedades com os rumos que a classe dos gestores e parlamentares acabam por liderar. Sem dúvida alguma preocupação presente na atualidade e que não vislumbra solução, a não ser a oriunda dos políticos em honrar com ética e respeito os cargos que ocupam.

E não seria nada mau que os mesmos, sobretudo das Américas do Sul e Central, investissem mais no apoio aos esportes como fonte de educação e civilidade coletiva, já que isso poderia reverter – a curto e médio prazo – em um cenário mais justo, saudável e promissor. O esporte promove o conflito saudável, a cultura de paz e em meio de tantas intolerâncias e adversidades seria um alvo de convergência propulsora de descargas de energias, onde todos sairiam vitoriosos.

Agora vamos torcer por performances atléticas que farão nossos olhos se encantarem e nossos corações pulsarem mais fortes. Desejamos boa sorte a todos, mas em especial ao Brasil, que possamos – ao menos – manter o mesmo patamar dos últimos rankings dos jogos pan americanos, quando conquistamos o 3º lugar das nações que mais conquistaram medalhas. A tarefa é difícil, mas temos talentos e representantes que darão todo o seu suor, energia e paixão por um desempenho ainda mais vigoroso e admirável.

Texto ed Andréa Nakane