Você certamente já ouviu o escândalo do FYRE FESTIVAL, um dos maiores fracassos recentes do mercado de entretenimento ao vivo, que gerou inúmeros processos judiciais, levou a falência diversas pessoas físicas e jurídicas e colocou atrás das grades, seu principal responsável, o empresário americano da nova geração, Billy McFarland.

Dono de uma espécie de Startup de agenciamento de artistas, Billy McFarland, decidiu investir – em parceria com um grande rapper mundial, Jay Rule, em uma experiência exclusiva e inovadora em um local paradisíaco, nas Bahamas.

Sustentado por uma campanha de comunicação digital, promovida por celebridades, como as modelos Kendall Jenner, Bella Hadid, Alessandra Ambrósio e Hailey Baldwin, o festival de música foi anunciado como uma festa de variedades de alto padrão, que seria realizada durante dois fins de semana em abril/maio em uma ilha privativa.

Os pacotes, que custavam até US$ 100 mil, prometiam acomodações de luxo e “o melhor da comida, da arte, da música e das aventuras” na ilha caribenha. Entre as atrações musicais prometidas estavam os grupos Blink-182 e Major Lazer.

Porém, o conto de fadas, ou melhor do vigário, foi desmascarado em tempo real quando inicialmente deveria ter sido seu momento ápice, justamente com a chegada dos participantes, que rapidamente, em menos de 48 horas, deram “sold out” em todos os ingressos. Esses, ainda, em estado de overbooking, pois não existiam espaços para todos, muito menos para a diversão, nem acomodações e nem cardápios luxuosos prometidos. Se conseguissem um simples sanduíche de queijo, seus consumidores já seriam considerados sortudos, já que tudo rareava na ilha, batizada, posteriormente da ilha do inferno, pelo público enganado.

O documentário Fyre: O Grande Evento que Nunca Aconteceu, do Netflix, que estreou no canal, na última sexta-feira, dia 18 de janeiro, foca no planejamento desastroso do festival – que foi organizado, ou melhor, na sua tentativa de concretização.

O roteiro do projeto documental, dirigido por Chris Smith, conseguiu reunir depoimentos dos principais líderes do evento e suas experiências nos backstages, após o incidente criado, mesclando com registros que antecederam toda a história do Fyre Festival.

Para quem acompanhou todo o caso, o documentário, traz novidades esclarecedoras de como foi operada a grandiosa fraude do show business mundial da atualidade, com manipulações de todas as partes, desde dos investidores, do público alvo e até mesmo dos prestadores de serviço, por um projeto audacioso, liderado por um jovem, cuja oratória convencia a todos, até o mais incrédulo.

Uma reflexão muito profunda que esse caso traz à tona é justamente o efeito da sociedade moderna em deixar-se seduzir por imagens e as conhecidas celebridades, hoje içadas a categoria de influciadores digitais. O Fyre Festival antes mesmo de um plano de negócios, um estudo de viabilidade, foi construído somente por ideias, baseadas em experiências, luxo e exclusividade e encenados, por meio de uma produção fantasiosa do que seria o evento propriamente dito.

Ora… entre ter ideias e colocá-las em práticas, o caminho é tortuoso, demanda muita transpiração, muitas negociações, muito empenho, um bem estruturado plano de tempos & movimentos, uma equipe uníssona, mil e uma planilhas, enfim… um árduo trabalho para colocar um sonho na esfera da realidade, sem transformar-se em um pesadelo inimaginável.

E o Fyre Festival se apoderou de todos os conceitos vivos que encantam a sociedade consumista e plugada nos devaneios dos influencers, sem se preocupar em ser acima de tudo verdadeiro e autêntico em sua comunicação, entregando contrariamente o que foi vendido de forma enganosa, quebrando o primeiro mandamento de qualquer negócio: a honestidade na relação.

A culpabilidade, é claro, que é de todos os “heads” do evento, até mesmo daqueles que diante do caos anunciado, continuaram a dar força a total falta de lucidez de seus principais empreendedores. Mas não podemos também deixar de falar da falta de comprometimento e até mesmo de responsabilidades dos famosos que usam seu prestígio e séquito de seguidores para vender tudo e qualquer coisa, que acene com uma determinada quantia.

Para se ter uma ideia, para promoção do Fyre Festival, somente uma influenciadora, a Kendall Jenner, ganhou US$ 250.000… E depois de todo o fiasco ocorrido, apenas se dirigiu a sua legião de fãs e mencionou que também foi enganada… com a diferença que sua conta-corrente não foi depreciada, ao contrário dos participantes e sobretudo dos trabalhadores que até hoje, dois anos depois, nada receberam.

Não vou dar mais spoilers sobre o documentário, apesar de muitos conhecerem essa história, mas peço um favor, assistam a esse documentário, repassem para seus contatos, para sua equipe, para seus alunos, enfim, vamos sinalizar como um alerta.

Afinal, o Billy McFarland está preso, mais ainda há tantos Billys por aí… por todos os lados seja nos Estados Unidos, nas Bahamas, no Brasil e em tantos outros lugares.

Sonhar é sempre preciso. Mas atrair outras pessoas para seus sonhos, deixá-las com elevadas expectativas e depois ignorá-las, falsificar números em balanços, enfim, isso não é competência de um visionário, mas sim de um marginal sociopata, que nesse caso usou do universo de eventos para dar vazão as suas alucinações. E certamente outro Fyre Festival, nesse momento, pode estar sendo concebido.

Façamos uma corrente, então, para que outros eventos nesse mesmo estilo não ganhem espaço e nem gerem novas vítimas.