R$ 624 milhões foram as despesas pagas pelos contribuintes britânicos, com o evento de coroação do Rei Charles III, na Abadia de Westminster, que ocorreu no dia 06 de maio de 2023, e definitivamente oficializa uma nova fase na monarquia britânica.

Apesar de ter grupos oponentes, sobretudo, liderados pelos mais jovens, aos custos da celebração, a maioria da população britânica apoia sua organização, já que enxergam tal fato como algo positivo, propositalmente para a nação, na esfera econômica, que atraia, não só a presença de chefes de estado, mas, também de inúmeros turistas a capital da Inglaterra. Estima-se que 1 bilhão de libras tenha sido arrecadado com a movimentação de visitantes para acompanharem todo o evento.

O roteiro do evento começou às 10h20 (6h20, horário de Brasília), com a Procissão do Rei. O cortejo saiu do Palácio de Buckingham e seguirá por 2,3 km até a Abadia de Westminster. Ao fim da cerimônia, por volta das 13h (9h, horário de Brasília), a Procissão da Coroação fez o percurso inverso.

A cerimônia repleta de simbolismo e ritos milenares para muitos pode até ser considerada exagerada, ostensiva e antiquada. Porém para outros é a representação máxima de respeito à cultura e tradições que promove conexões.

Como pesquisadora e profissional que trabalha na área de Cerimonial e Protocolo há pelo menos 25 anos, confesso que é um momento único de aprendizado e contemplação, que não está disponível no cotidiano. Vale ressaltar que solenidade de tal porte e envergadura, anteriormente ocorreu em 1953, com a coroação da jovem Rainha Elisabeth II.

Oito meses após sua passagem, seu filho primogênito passa pela mesma histórica coroação, nos possibilitando perceber que apesar de todo o avanço tecnológico e moderno, os símbolos e ritos permanecem como elementos que evocam pertencimento e despertam sensações de múltiplas emoções.

Como elementos que comunicam mensagens, o conjunto de todas essas configurações dão sentido ao coletivo, resgatando memórias do passado, ao mesmo tempo que sinalizam que o presente mantém-se dinâmico e agregador de novos ritos.

Mas a contemporaneidade transvestida de novidades também espaço reservado em cerimonias de pura tradição. Por exemplo no set list da coroação foram incorporadas doze novas composições, incluindo músicas de Judith Weir, Andrew Lloyd Webber e Patrick Doyle. Os artistas do serviço incluem a Orquestra da Coroação, o harpista real Alis Huws, o Coro da Abadia de Westminster e o Coro da Ascensão. Além disso, foi a primeira vez que uma cerimônia de coroação incluiu bispas, assim como a estreia de representantes de outras religiões, evocando a multiculturalidade em todos os sentidos, inclusive o religioso.

Os ritos variam conforme a sociedade ou a cultura, apesar de se basearem em certas questões comuns a toda a humanidade, com base em arquétipos. O que pode ser até mesmo analisado como algo essencial a representação plena de uma sociedade. E que por si só justificam sua manutenção e continuidade absorvidas como legados geracionais.

Outros números também chamam a atenção, frente a grandiosidade do acontecimento especial.

Mais de 11 mil membros das forças armadas foram envolvidos nas cerimônias. Destes, mais de 4 mil participaram da procissão entre a Abadia de Westminster e o palácio de Buckingham, segundo a agência Reuters, demonstrando sua envergadura preventiva.

Foram recebidos 2,3 mil convidados na Abadia de Westminster – bem abaixo dos 8 mil que assistiram à cerimônia de 1953. Um enxugamento na ordem de promover uma cerimônia mais alinhada com questões de otimização de recursos e até porque com todo o aparato das telecomunicações, o evento tende a ter um alcance de transmissão muito expressivo.

A questão da sustentabilidade também se fez presente na organização do evento, alinhado com os novos tempos e com o perfil ambientalista do Rei Charles III. O mesmo reutilizou roupas usadas por seus predecessores reais e a estética “ecológica” da cerimônia também estava estampada nesse instrumento, elaborado em papel reciclado, nela aparece o “homem verde”, figura milenar do folclore britânico que simboliza a chegada da primavera e o renascimento.

No momento da coroação, uma saudação de 62 tiros foi disparada na Torre de Londres, com uma salva de seis tiros no Horse Guards Parade. Outros 21 tiros foram disparados em 13 locais em todo o Reino Unido, incluindo Edimburgo, Cardiff e Belfast, e em navios da Marinha Real.

Mas o evento não acaba nesse ato, continua nos dias seguintes à coroação: Domingo (7): a noite contará com shows de diversos artistas, a maior parte internacionais. Entre eles estão Kary Perry, Lionel Richie e Andrea Bocelli. Segunda-feira (8): o dia será feriado nacional. Na data, a família real incentiva os britânicos a realizarem atos de caridade e a partilharem refeições com a comunidade.

Um evento complexo, ritualístico, que ao mesmo tempo que reforça seu passado, abre-se para o futuro, demonstrando que o novo sempre vem, sem jamais esquecer do que já foi, como relicário de emoções e conquistas que constitui a sua história, e que, seja ela qual for, jamais poderá ser desprezada, pois é prova viva da continuidade de todos nós.

God Save the King… God Save Us!