Sou carioca, legítima, da gema e da clara! Minha relação com a cidade é antiga, está registrada em minha certidão de nascimento e mesmo tendo a vida me levado para outros lugares, meu coração jamais saiu do RJ.

Se alguém indagar qual a minha primeira lovemark, sem pestanejar, irei responder que é a cidade maravilhosa, que em verso e prosa ficou conhecida mundo a fora.

Meu nível de envolvimento com o Rio de Janeiro ultrapassa a calorosa paixão, que é cega e não permite muitas vezes perceber o que é óbvio. Estou no patamar de puro e intenso amor, que me deixa livre e lúcida para admirar o que é belo e correto, sem gerar uma miopia torva, fato que mantém minha racionalidade e senso crítico de reconhecer que há falhas e vulnerabilidades, que maculam diariamente sua conspícua imagem e afeta o sorriso de seus nativos e visitantes.

Recordo, que desde 1992, sempre fui engajada ativamente em participar de ações em busca de captar uma edição olímpica para o país, de forma mais orientada, para o Rio de Janeiro. A partir da Rio 92, considerado o maior evento do século passado, por conseguir reunir uma gama de chefes de estados, até então nunca vista na história mundial, ficamos, como diria minha filha “ nos achando”, pois o acontecimento especial transcorreu de forma plena, coroado de êxitos.

Tentamos para 2004, 2008 e 2012… até que aperfeiçoando projetos, alinhando estratégicas e parcerias internas e externas e tendo a liderança de um gestor, que admiro muito desde a minha época de atleta de volleyball confederada , o Carlos Arthur Nuzman, a nação, então integrante do famoso grupo de emergentes BRICS, conquistou, a honra para sediar a 31º edição dos jogos olímpicos, na cidade do Rio de Janeiro.

Confesso que não pude conter as lágrimas e deixei a emoção aflorar, afinal, o maior evento seria realizado em terras verde-amarelo, na cidade dona do meu coração.

Era uma oportunidade de ouro, tínhamos tempo para um planejamento primoroso e ganharíamos a maior projeção que um destino poderia almejar. Independente da fama negativa de país corrupto e do jeitinho brasileiro perverso de levar vantagens sobretudo e todos, tinha esperanças que isso seria superado…afinal nada é intransponível.

Passaram-se 07 anos… o mundo não mudou tanto, e a situação do Brasil… também não mudou!

Eu me enganei, me iludi, me frustrei… o país manteve-se blindado por dirigentes ilusionistas que mascararam um cenário surreal. A marolinha transformou-se em um tsunami avassalador, que infelizmente varreu as condições econômicas , gerando instabilidades sociais e emocionais na nação. Isso para nem comentar sobre a situação política vexatória, que expos o Brasil em uma posição de zombaria e déscredito mundial

Hoje, muitos cobram o meu apoio a RIO 2016, até por que muitos que nunca levantaram a bandeira do Rio, por oportunismo, assim o fazem agora!

Porém não vou ser poliana e muito menos hipócrita em crer de forma abnegada, que tudo está na mais perfeita ordem de gestão. As falhas já eminentes são de um nível amadorístico inigualável, os legados que teremos serão de um impacto abissal, um possível revival do que ocorreu em Atenas/Grécia, pós 2004.

Obras desastrosas de mobilidade, faturamentos estratosféricos, licitações sem base profissional, segurança sendo tratada de forma pouco rigorosa, hospitalidade interna aos colaboradores pífia, entre outras ações, me incomodam, me desagradam e me fizeram declinar de inúmeros convites de trabalho – remunerados e voluntários.

Mas, não é por isso que sou menos RIO, pelo contrário, minha criticidade, fundamentada em plataformas sólidas de mais de 25 anos de expertise em eventos, me permitem estar mais próxima dessa dura realidade, não pontualmente, mas muito antes desse conturbado período.

Não sou só Rio2016, sempre fui Rio e espero, do fundo do meu âmago que, mesmo com todo o cenário caliginoso possamos ter um registro de jogos olímpicos que cumpram o seu papel de fomentador de uma cultura de paz e quem sabe tragam no espírito do olimpismo, lições para que possamos transformar nossa realidade em algo realmente mais justo, transparente e bonito, não só por natureza, mas também, prioritariamente, de ordem humana.

Que os Deuses do Olimpo e todos os seres divinos de todas as crenças possam estar conosco! Vamos precisar… e muito!