É notório que regredimos aos tempos de barbárie… povos em conflitos, violência ao extremo, corrupção em doses hegemônicas, intolerância reinando no mundo real e no virtual… enfim, um cenário triste, desolador, que mina esperanças e que nos tornam pessoas, ainda mais frágeis e até mesmo reféns de nossa própria incapacidade de sermos mais humanos e solidários.

Por isso, quando chega um período de festividade como o Carnaval, principalmente no Brasil, vislumbra-se uma espécie de oásis passageiro, mas onde será possível extravasar momentaneamente nossas agruras, dar um tempo e buscar, por meio de um espírito mais alegre e leve, algum tipo de conforto e como um verdadeiro revigorante, para quem sabe continuar na labuta diária, reunindo forças para fomentar um novo alento transformador dessa história.

Mas o que assistimos no último fim de semana em São Paulo, em uma espécie de “esquenta” do Carnaval Paulistano, no Memorial da América Latina, zona oeste da cidade, nos assustou e serviu como uma sinalização, que será preciso muito zelo e investimento pesado na segurança dos eventos carnavalescos.

No caso do evento pré-carnavalesco de Sampa, os foliões que ficaram de fora da apresentação dos famosos blocos cariocas Sargento Pimenta e Bangalafumenga causaram tumulto no local do evento, por que queriam – a todo e qualquer custo – entrar para a folia gratuita.

Ora, o alvará expedido dizia claramente que a capacidade máxima do local planejado era de 10.000 pessoas. E por volta, das 16h, quando a lotação máxima foi atingida, os portões foram fechados. Foi aí, que o público ficou revoltado e deixou aflorar seus instintos mais rudimentares, não pensando mais e só agindo com a emoção de querer, por qualquer jeito, ingressar na festa. E por isso, parte desse público que foi barrada, tentou burlar a segurança e pular os portões. Alguns até conseguiram entrar no espaço.

Não há notícias de acidentes graves, mas, mesmo assim, pessoas passaram mal, ficaram com hematomas, depredações e geraram muito empurra-empurra, bate boca entre todos os presentes. Se nada pior aconteceu… certamente um milagre foi vivenciado.

Durante cerca de 40 minutos, quem estava dentro não conseguia sair, pois os portões estão fechados e a equipe de segurança não permitia nenhum tipo de movimentação… às 17h os portões foram reabertos para saída e com algum controle para a entrada.

Os ânimos estão aflorados… muita gente com cabeça quente… atividades culturais gratuitas certamente serão alvos de grande interesse… não dá para não reforçar a segurança desses eventos.

O Carnaval do Brasil – do Oiapoque ao Chuí – continua sendo uma das festas populares mais conhecidas no mundo. É admirado e até mesmo uma atração internacional que movimenta milhões na nossa flagelada economia. Não podemos deixar que mais uma situação lamentável possa tirar seu brilho e macular sua reputação.

Que o aconteceu no Memorial da América Latina tenha servido como uma alerta a todos os organizadores e promotores de eventos de Momo e que o público, tenha mais consciência e respeito, afinal são as suas vidas que correm perigo… e isso não é fantasia de Carnaval.

Andréa Nakane