Os protestos que foram realizados no último dia 15 de março em diversas cidades do Brasil e até do mundo, além de representarem genuinamente o clamor por mudanças do povo brasileiro, trouxe consigo também diversos ensinamentos e algumas reflexões sobre a organização de megaeventos, sobretudo daqueles que surgem da comoção popular.

É meramente impossível organizar tais eventos sem técnicas de organização e gestão. Há mais de um mês circulam pelas redes sociais – o meio de comunicação escolhido para sua proliferação – o save the date da ocasião. O dia 15/03 não foi uma data aleatória, primeiro escolheram um domingo, dia de descanso, que além de permitir uma maior participação popular, também não provocaria ainda mais caos nos conturbados trânsitos das localidades participantes. Além disso a data é emblemática do ponto de vista político, pela retomada do governo civil há décadas atrás.

Muitas vezes a falta de uma organização reconhecida, alguém que seja responsabilizado pelo evento pode trazer inúmeras dificuldades para negociações e acordos com os órgãos públicos e gerar repulsas e desconfianças.

A formatação de um manual orientativo a todos os participantes que iriam participar da manifestação foi um das mais assertivas estratégias que deve servir de exemplo.

Vale reproduzir na íntegra as recomendações, que podem ser úteis para futuros eventos de grande contingente de público.

“1 – Bandeiras de partidos políticos e outras organizações ligadas aos mesmos não serão permitidas. Caso apareçam, serão tomadas.

2 – Esta marcha é do povo e ninguém a utilizará para autopromoção.

3 – Viu qualquer movimento ou atitude suspeita? Utilize da melhor arma que tem para isso: seu celular. Filme tudo e entregue o arquivo para a organização do ato, a fim de que providências legais sejam tomadas.

4 – Se surgir qualquer foco de violência ou vandalismo contra o patrimônio público todos deverão se sentar até que os policiais que farão a escolta, fardados ou à paisana, capturem o meliante.

5 – Se houver provocações oriundas de qualquer grupo estranho ao ato apenas ignore. Eles estão desesperados pois tudo o que construíram está ruindo. Nós somos a ameaça aos seus interesses escusos. Somos o golpe de misericórdia contra o PT.

6 – Atenção às mensagens que serão enviadas do carro de som!

7 – Não use roupas vermelhas ou pretas. Elas lembram o PT e os Black Blocs. Não compareça no evento com camisetas em alusão a partidos políticos.

8 – Verde e amarelo são as cores ideais para este dia de indignação. Pinte o rosto!

9 – Confeccione faixas, cartazes. Leve bandeiras do Brasil, use nariz de palhaço. Leve cornetas, apitos, faça barulho! Leve também balões azuis, amarelos e verdes. Vamos chamar atenção para nossa causa.

10 – Durante a marcha, fique atento aos cânticos que serão puxados pela organização! Nada de coros que não são pertinentes ao ato. Lembre-se, você está nas ruas para reivindicar direitos.

11 – A polícia é nossa amiga. Gente ordeira e trabalhadora não teme aqueles que nos protegem. Eles estarão presentes para garantir que tudo ocorra bem. Não trate estes bravos servidores públicos de forma hostil.

12 – Convide amigos e vizinhos. Vá com sua família ao ato! Ensine seus filhos desde pequenos que política é algo bom e deve ter à frente pessoas de bem. Ensine-os a fazer parte da história e não apenas a vê-la passar. Um povo que luta por seus direitos e participa é respeitado por seu governo.

13 – Respeite os veículos que se aproximarem da marcha. Não bata nos vidros e tampouco na lataria dos carros. Não jogue lixo no chão. Recolha papéis e outros objetos e deposite emlixeiras. Somos civilizados.

14 – Permaneça no roteiro da marcha. A intenção é mostrar nossa força e não travar o trânsito.

15 – Se chover, vá mesmo assim! Leve seu guarda-chuva, mas não deixe de comparecer. Não somos feitos de açúcar. Temos força e raça! Nada impedirá nossa luta pelo Brasil que queremos!

16 – Caso alguém passe mal no evento, forneça ajuda e contate a organização.

17 – Qualquer crítica/sugestão será bem recebida.

18 – Leve água para se hidratar durante o percurso. Respeite crianças e idosos.

19 – Desejamos uma ótima Marcha a todos.”

Outra questão que mais uma vez gerou grande polêmica é a quantificação de pessoas presentes, sobretudo na região da Av. Paulista, maior concentração de todas as manifestações desse dia.

O método da Polícia Militar foi super correto: uso de recursos de mapas e georreferenciamento, com o apoio de imagens aéreas, determinando a extensão principal da manifestação, bem como, a ocupação das ruas adjacentes adotando como parâmetro de cálculo, naquele momento, de 5 pessoas por metro quadrado.

Já a da Datafolha que há alguns anos tenta emplacar sua própria metodologia não tem fundamentação teórica e deixa em branco vários espaços, pois só analisam o pico da ocupação territorial.

E as discrepâncias são divulgadas… 1.2 milhão…. enquanto o outro fala em 210 mil… Quem estava lá certamente viu que a segunda opção estava totalmente equivocada.

Um pequeno grupo foi preso com porte ilegal de spray de pimenta e outros instrumentos e os mesmos foram denunciados pelos próprios participantes a segurança pública. Aliás essa era ovacionada quando passava. Desempenharam seu papel com altivez e simpatia, demonstrando que força bruta não supera atitude e acolhimento.

Os ambulantes foram essenciais para a prestação de serviços de venda de capas de chuvas, guloisemas, bebidas, inclusive cerveja… mas nada além disso!

A ausência de banheiros químicos, mais uma vez se fez sentida… mas quando não será em grandes eventos?

Pensar em todos os impactos, positivos e negativos, devem ser os pilares da organização dos megaeventos e o que vimos ocorrer no dia de hoje foi não só uma lição de cidadania, sem partido político, idade, sexo e credo, mas também um verdadeiro aprendizado que é possível sim organizar grandes eventos com muita segurança, de forma pacífica e disciplinada, quando todos estão emanados por uma força maior e seguem juntos , respeitando o espaço de cada um e de todos.

Parabéns pelas lições que aprendemos hoje!