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Círio, em Belém: É um dos eventos mais difíceis de controle e preservação do bem estar, já que um dos símbolos fortes dessa procissão é a corda (Foto: arquivo DT)

 

A era contemporânea estimula cada vez mais uma relação holística, espiritual com o divino, independente da sua crença religiosa.

Ao abordar a questão sob a ótica do Turismo Religioso no Brasil verifica-se um crescimento expressivo em destinos que desenvolvem e ratificam tradições e histórias de fé.

O sincretismo religioso brasileiro permite uma diversidade experimental singular, sem a perda de seu vínculo pragmático de sua crença hegemônica.

Mesmo com a queda, o catolicismo ainda representa a crença religiosa de mais adeptos no Brasil e há destinos totalmente vinculados a essa demanda, conforme ranking vinculado pelo MTur.

Entre essas localidades que dinamizam a economia proveniente do Turismo Religioso destacam pólos que incentivam fluxos de visitantes continuamente, com ações planejadas e orientadas, como é o caso dos eventos (procissões, festas em homenagem a padroeiros, quermesses, etc.).

E nesse caso vale um alerta com relação a uma maior atenção no quesito segurança.

É ingenuidade acreditar que sendo um evento religioso, a tranquilidade irá reinar absoluta entre todos os participantes, já que atributos como solidariedade, irmandade e pensamento coletivo seriam pilares da convivência entre os fiéis.

O maior estímulo do grupo tem sua base na fé e a mesma é conceituada pela sua origem no Grego “que indica a noção de acreditar e no Latim “fides“, que remete para uma atitude de fidelidade, sendo assim nessa simbologia, a fé é uma virtude daqueles que aceitam como verdade absoluta os princípios disseminados por sua religião.

Portanto a fé evoca emoções tão conspícuas, que as liberam inconscientemente para cumprir sua totalidade em seu papel de devoto e seguidor, ultrapassando objetivamente a razão em prol do emocional.

É ingenuidade acreditar que sendo um evento religioso, a tranquilidade irá reinar absoluta entre todos os participantes

Nesse contexto, a perspectiva e máxima popular que “a fé cega” se confirma.

Em Belém do Pará, há uma referência com o Círio de Nazaré, considerado o 2º maior evento Mariano do mundo, arrematando cerca de 2 milhões de pessoas em cada edição, unidas em procissão percorrendo cerca de quatro quilômetros e com duração que pode chegar até a oito horas contínuas de devoção.

É um dos eventos mais difíceis de controle e preservação do bem estar, já que um dos símbolos fortes dessa procissão é a corda, na qual os devotos lutam fervorosamente por tocarem e permanecerem junto à mesma, como forma plena de demonstração de sua fé ou até mesmo retribuir por uma benção alcançada.

Os esforços levam os fiéis a exaustão, no qual o cansaço físico resulta em diversos mau súbitos. Alguns enxergam seus irmãos de fé até mesmo como obstáculos e tentam se desvincular dos mesmos.

Mais uma vez fica comprovado que tudo que for vinculado à segurança, nesses casos, ainda será muito pouco, mediante a grandeza dos riscos envolvidos no evento.

Por isso há uma prerrogativa urgente de transformar pólos do Turismo Religioso como Aparecida do Norte, Nova Trento, Juazeiro do Norte, Guaratinguetá também como zonas de segurança unificada, tanto de ordem pública quanto privada.

Contar apenas com a proteção oriunda dos céus pode incitar a cenários de lamúrias e sofrimentos.

A segurança não é algo subjetivo e deve fundamentar-se em uma análise criteriosa de todas as variáveis que o evento estará sujeito, garantindo, assim, todo o fenômeno da vivência da fé, tão necessária a felicidade desse grupo social.

E é por isso que a segurança em eventos religioso é vital, literalmente sagrada e não dá para ficar sem!

Vamos contar com a cooperação divina, mas não depender apenas dela!

* Andrea Nakane é professora, empreendedora e diretora do Mestres da Hospitalidade